Lei da Recapitulação

Lei da Recapitulação: ou biogenética. Teoria enunciada originalmente por Ernest Haeckel em 1866, segundo a qual o desenvolvimento dos órgãos no decurso da embriogénese passaria por estádios de evolução semelhantes aos do desenvolvimento de organismos inferiores na escala filogenética. Em síntese, a ontogénese recapitularia a filogénese. Esta teoria tornou-se bastante apreciada entre as ciências humanas, sendo adaptada analogamente por autores como Jean Piaget e Sigmund Freud. Contudo, mesmo no século XIX existiram vozes críticas que se opuseram a Haeckel, sobretudo embriologistas, considerando que algumas das ilustrações tinham sido manipuladas e que as diferenças significativas tinham sido ignoradas. Karl Baer salientou que esta perspetiva, que apelidou de “romântica”, era falsa pois as semelhanças são aceitáveis nos estádios iniciais de desenvolvimento, mas não nos estádios intermediários ou finais; e Stephen Jay Gould alega que o melhor será aceitar que existe uma lentificação do desenvolvimento que conduz à existência de caraterísticas juvenis (no caso dos humanos, essas caraterísticas juvenis são visíveis nos primatas, tais como os maxilares pequenos e a falta de pelos). A confusão subsiste, e percebe-se porquê: com um mês de gestação, o embrião humano possui doze fendas branquiais semelhantes a guelras de peixes. Contudo, as respetivas funções e composições nunca serão as mesmas. Apesar de atualmente a Lei da Recapitulação não constituir, sequer, uma lei científica, é tida como referência para alguns autores, sobretudo se pretendem argumentar a favor de teorias racistas. Daniel Garrison Briston, citado por S. J. Gould, defende que os negros são inferiores por manterem caraterísticas juvenis que os brancos já teriam ultrapassado, mas paralelamente outros autores defendem que a mesma ideia racista com base no facto de os brancos manterem caraterísticas juvenis que os negros já ultrapassaram; Gould conclui que dificilmente a mesma teoria poderia defender teses tão contraditórias. Acusado por académicos e condenado em tribunal, Haeckel acabaria por reconhecer que adulterou as ilustrações como forma de preencher as falhas, os “espaços em branco” da sua teoria, defendendo-se com o argumento de que esse era um procedimento habitual entre os cientistas da sua época.

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