Crianças selvagens: trata-se de crianças isoladas de um mundo cultural, ou seja, de um mundo humanizado. Existem vários casos relatados e documentados acerca de crianças que foram criadas por animais. Essa ausência de um processo de socialização humana tem por consequência a perda de algumas aptidões cerebrais, sendo possível a sua recuperação, apenas em alguns casos, se forem ressocializadas. Portanto, a realidade é bastante distinta daquilo que se nos é apresentado nos mitos de Rómulo e Remo ou nos filmes de Tarzan. A principal diferença em relação ao homem socializado não consiste apenas no atraso ou défice linguístico mas, sobretudo, na ausência de consciência de si próprias. Tal como os animais, que possuem quanto muito uma imagem reduzida do “Eu”, as crianças selvagens revelam frequentemente uma enorme dificuldade em desenvolver a sua consciência humana. A aquisição da consciência de si, da identidade pessoal, da relação com o Outro (alteridade) é marcante no desenvolvimento humano. Sem tal transformação perdura o caráter inacabado e imaturo do ser humano. Os exemplos das crianças selvagens mostra-nos como o potencial hereditário do ser humano não pode desenvolver-se se não for estimulado no momento oportuno, modelado pela educação quando as diferentes funções atinem a maturidade. A plasticidade de um indivíduo jovem é enorme, mas as suas capacidades terão de ser desenvolvidas no momento oportuno, sob risco de jamais as recuperar integralmente.